domingo, 20 de fevereiro de 2011

Opinião - BBB em debate!

Crônica cuja autoria  é atribuída a  Luiz Fernando Veríssimo*, adaptada por Mariléia Marchezan  - sobre o "BBB"

Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil,  produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos  chegar ao fundo do poço... A décima edição  do BBB foi uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil  encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.
 
      Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu  fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo,  principalmente pela banalização do sexo. O BBB 11 é a pura e suprema  banalização do sexo. Impossível assistir, ver este programa ao lado  dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... Todos na mesma casa, a casa dos  “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra  gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza  ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB 11 é a realidade em busca do IBOPE.
 
     Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu  um “zoológico humano divertido”. Não sei se será divertido, mas  parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas. Se entendi corretamente as apresentações, são 15 os “animais” do “zoológico”: o judeu tarado, o gay afeminado, a dentista gostosa, o negro com suingue, a nerd tímida, a gostosa com bundão, a “não sou piranha mas não sou santa”, o modelo Mr. Maringá, a lésbica convicta, a DJ intelectual, o carioca marrento, o maquiador drag-queen e a PM que gosta de apanhar (essa é para acabar!!!).  
        Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente  bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se  morrer tão cedo.  Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte  da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.

       Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro  repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente,  chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis? Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros,  profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os  professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores  incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com  dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados. Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida  por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a  isso, todo santo dia. Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna. Heróis, são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, ONGs,  voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de  carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna  heroína, Zilda Arns). Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam  suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como  mostrado em outra  reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.
 
       O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não  acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral.
 
       E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a  "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!  Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: José Neumani da  Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão. Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia  se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros? (Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores!) . Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e  indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores. Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário  Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa, ir ao cinema,  estudar , ouvir boa música, cuidar das flores e jardins, telefonar para um amigo, visitar os avós, pescar, brincar com as crianças, namorar ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda  resta dos valores sobre os quais foi construída nossa sociedade.

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Conteúdos envolvidos: leitura e estudo do texto, análise de sua estrutura, partes. Identificação do seu tema e suas delimitações, ideias implícitas e explícitas, observação dos elementos de coesão (conectivos), identificação do tipo de texto e gênero textual - crônica. Debate e formação de opinião, escritura de parágrafo dissertativo sobre o assunto discutido. Fixação de regras ortográficas e organização frasal padrão.


* Luis Fernando Verissimo (Porto Alegre, 26 de setembro de 1936) é um escritor brasileiro. Mais conhecido por suas crônicas e textos de humor, mais precisamente de sátiras de costumes, publicados diariamente em vários jornais brasileiros, Verissimo é também cartunista e tradutor, além de roteirista de televisão, autor de teatro e romancistaÉ ainda músico, tendo tocado saxofone em alguns conjuntos. Com mais de 60 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos. É filho do também escritor Erico Verissimo. Fonte: Wikipédia.



ATIVIDADE

A partir da leitura da crônica,  das discussões tecidas em aula e de tuas vivências, escreve um comentário resumindo tua opinião sobre o programa criticado por L. F. Veríssimo. 

Hei! Cuidado! Deixa o internetês de lado, tu deves usar a norma culta da língua portuguesa na escritura do teu comentário.

Bom trabalho!

Bj
 



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